Atitude! Esta é a expressão que nos assalta o espírito quando olhamos para o Abarth Grande Punto esseesse (SS tem conotações históricas prejurativas). Com as cavas das rodas completamente preenchidas pelas jantes de 18 polegadas e um assentar no solo de sopé ligeiramente negativo, efeito esse ampliado pelas molas cónicas rebaixadas em 20 mm, este Grande Punto parece um Super 1600.
Já as faixas Abarth a vermelho podem ser excessivas, até porque custam 120 euros, os quais podem ser melhor empregues na aquisição do kit esseesse. Os estofos em pele (1500 euros) e o tecto de abrir eléctrico panorâmico (850 euros) também estão entre os itens cujo valor é melhor empregue no kit esseesse, pois este transforma por completo o Abarth Grande Punto, fazendo dele
o pequeno desportivo mais rápido da actualidade: 0 a 100 km/h em 7,0 s e 0 a 1000 m 27,8 s. Estes valores batem largamente os do Corsa OPC (192 cv), do 207 RC (175 cv) e do Cooper S (175 cv), igualando os do Cooper S JCW (192 cv), só sendo batidos pelo muito mais caro Mini JCW de 211 cv.“Maximum attack”
Esta expressão foi tornada célebre por Markku Alen, um dos pilotos mais ligados ao nome Abarth. É claro que, em termos de pilotagem, o significado da mesma mudou muito, quando mais não seja porque os saudosos 131 Abarth tinham tracção traseira e o “nosso” Punto é um tudo à frente, ou seja, possui motor e tracção dianteira.
De qualquer forma, depois de se assimilar a afinação “carro de corrida” deste Grande Punto esseesse, a qual beneficia o controlo, a aderência e a rapidez de resposta às solicitações do volante em detrimento de uma postura 100% estável (o controlo estabilidade resolve essa parte), este Abarth revela-se uma arma temível naquele tipo de estradas em que o asfalto serpenteia sem parar e os pequenos troços de recta apenas permitem um curto disparo de aceleração instantânea – existem alguns bons exemplos destas estradas na antiga “zona saloia de Lisboa”.
Neste tipo de estrada, de “apontar e disparar”, este Punto é de uma eficácia fenomenal e permite ritmos que deixariam muitos veículos com o dobro da potência em dificuldades apenas para acompanhar, quanto mais superar. Mas essa é uma das características que faz a diferença entre (mais) um banal pequeno desportivo e um (novo) ícone.
A direcção é rápida e directa, embora isenta de qualquer informação útil para o condutor, o que somado à rigidez da suspensão permite ao esseesse mudar de direcção com enorme acutilância e facilidade, ao passo que a frente resiste à subviragem na inscrição de forma estóica.
Aliás, quando se aponta o Abarth à trajectória com algum excesso de velocidade é mais comum sentir um ligeiro ajeitar da traseira que, caso seja de imediato compensado com o acelerador, nem chega a levar à intervenção do ESP – bem calibrado e muito preciso na actuação mas sem opção ESP off.
O camber negativo da suspensão casa especialmente bem com aquelas curvas com a inclinação certa (típicas das boas estradas florestais), garantindo que os Pirelli PZero Nero apoiam perfeitamente no asfalto, ao passo que a suspensão em situação de carga máxima revela um compromisso perfeito entre amortecimento e controlo, absorvendo as irregularidades sem perder a trajectória.
O Grande Punto gosta de ser “pilotado” como um carro de corridas, não dando grande margem para invenções e fantasia. Os travões devem ser atacados com o máximo de decisão logo de início, para “matar” o máximo de velocidade ainda com as rodas direitas, sendo progressivamente aliviados até ao final da travagem, para que a inscrição seja feita em desaceleração total mas carregando doses maciças de velocidade – para evitar a entrada do ESP convém evitar movimentos bruscos do volante que destabilizem a traseira.
Assim, maximizamos a aderência lateral e a velocidade decresce ao ritmo ideal desde a entrada (super rápida) até ao ponto mais lento da curva, com a frente a morder de forma positiva e traseira leve a acompanhar. Daí em diante, já com a saída à vista, é altura de voltar ao acelerador e sentir a potência do motor a repor rapidamente a velocidade perdida –
entre os 60 e os 140 km/h em 3ª e 4ª o Abarth Grande Punto esseesse possui uma capacidade de aceleração equiparável à de um BMW 135i com 306 cv!Neste ritmo, a condução do Grande Punto é extremamente relaxada, com tudo a decorrer de forma compassada: basta que se acerte o golpe de volante inicial e o carro faz o resto, balanceado de forma exímia o aumento de aceleração lateral com a taxa de mudança de direcção pretendida.
De facto, na estrada certa, um bom pequeno desportivo é uma arma difícil de bater.
Ensaio publicado na Edição Nº 994 do Autohoje
PS. Claro está que se o colocarem frente-a-frente com um VW Fox 1.0 o Abarth perde!