Autor Tópico: FIAT do Infante D. Afonso  (Lida 3076 vezes)

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    La vita è troppo corta per non guidare Italiano
FIAT do Infante D. Afonso
« em: 11 de Março, 2010, 23:26:09 »
Porque o Fiat do Infante D. Afonso chegou em segundo mas ficou em primeiro...
Por António Simões

O primeiro automóvel chegou a Portugal em 1895 e na primeira viagem teve logo acidente, matou um burro. Figueira da Foz-Lisboa foi a primeira prova de estrada. Com carros pilotados por contratados no estrangeiro. Quem primeiro surgiu junto no Campo Grande foi um francês – que só pegara no volante em Coimbra porque adormecera no comboio. Por causa disso deram o prémio ao italiano do irmão do Rei

Emile Levassor era engenheiro, trabalhava para um industrial francês. Quando ele morreu – casou com a viúva. Para expandir o negócio comprou a Gottlieb Daimler, um dos inventores do automóvel, licença para construção de motores na fábrica. Depois, em sociedade com René Panhard, passou a fazer carros também. E foi com um Panhard et Levassor de dois cilindros que concorreu à primeira corrida de automobilismo de que há registo: Paris-Bordéus-Paris, 1190 quilómetros. Largada a 11 de Junho de 1895, 27 concorrentes. As previsões apontavam para que se atingisse Bordéus ao raiar da manhã mas Levassor chegou muito antes, por volta das 2.30 horas – e não tinha nenhum fiscal à sua espera. Teve de procurá-los num hotel, acordá-los – para que certificassem o tempo. E antes de se fazer de novo à estrada, por entre charretes e animais, «comeu sanduíches e bebeu champanhe» – e deu a pé uma volta pela cidade para «desentorpecer os músculos». A 50 quilómetros de Paris parou num restaurante – para mais uma refeição e à meta chegou ao cabo de 48 horas e 48 minutos. À média de 24,5 km/h – e um jornal escreveu que velocidade assim era um... «assombro». Mas como seu Panhard et Levassor só tinha dois lugares em vez dos quatro que se previam nos regulamentos não lhe deram 31 mil francos de prémio. Um ano depois, ao tentar desviar-se de um cão no Paris-Rouen, despistou-se, levaram-no em coma, politraumatizado, para o hospital, lá morreu, alguns meses depois. Povo que o recebera em euforia no dia da primeira vitória – pediu, em lágrimas, que fizessem estátua de Emile Levassor na Porte Maillot, uma das mais antigas entradas de Paris, onde, então, se pusera a meta. Lá está.

O primeiro carro e a primeira moto
E foi um Panhard et Levassor, o primeiro automóvel que houve em Portugal. Chegou em 1895, importado pelo Conde de Avilez. Na Alfândega de Lisboa logo se levantou a dúvida: que taxa aduaneira aplicar a tão «estranho artefacto». Máquina agrícola ou... «locomobile» que era como se chamavam as máquinas movidas a vapor? Foi esta que ficou. Os Avilez tinham palácio em Santiago do Cacém – e na primeira viagem, de Cacilhas para lá, o primeiro acidente: um burro atropelado e morto. Ainda nesse ano, há notícia no jornal O Velocipedista – de que no Velódromo das Devezas, Benedicto Ferreirinha, que ganhou fama também como ciclista e jogador de ténis, percorreu 10 mil metros em 17.01 minutos – recorde para uma ««bicycleta com motor a petróleo» Era assim que se chamavam às motos – e no jornal vincava-se que fora a primeira vez que «a machina se apresentara em público».

Porque era... O Arreda, o irmão do rei
Amante de carros e velocidades era Afonso, o irmão mais novo de D. Carlos. Bombeiro voluntário e... maçon – corria pelas ruas da cidade aos gritos: «Arreda, Arreda!», para que lhe saíssem da frente. Isso valeu-lhe o cognome:O Arreda.

Na viragem do século já havia 150 automóveis registados em Portugal, 10 anos depois eram mais de 600. A primeira corrida foi em Agosto de 1902, no hipódromo de Belém, organizada por ele, por D. Afonso. Ao despique, um Locomobile conduzido pelo americano Abott, um Panhard et Levassor conduzido pelo francês Beauvalet e um Darracq conduzido por Alfredo Vieira. Dez voltas, três objectos de arte em disputa e vitória de Abbot – «com um avanço de quase duas voltas sobre os outros dois concorrentes».


10 mil réis para fazer Figueira-Lisboa
A 27 de Outubro, a primeira prova de estrada: Figueira da Foz-Lisboa. Estava marcada para um domingo, teve de ser a um sábado, O Século explicou porquê: «Seria difícil policiar as estradas e as vilas do percurso por domingo ser dia em que há mercado em muitas das povoações que os automóveis têm de atravessar - e com isso se poder causar algum tumulto, confusões». Coube a Zeferino Cândido, director de A Época a ideia de fundar um clube de automobilistas. Anselmo de Sousa, Álvaro de Lacerda, Carlos Calixto, Júlio de Oliveira, Eduardo Noronha e Henrique Anachoreta – juntaram-se no desejo e numa reunião na redacção do seu jornal saltou a ideia de organizar uma grande prova de motos e automóveis que marcasse o seu ponto de partida. As taxas de inscrição eram de 10.000 réis para os automóveis e 5.000 reis para as motos e os concorrentes que partiram do largo fronteiro à sede do Ginásio Clube Figueirense não podiam atravessar lugares povoados a mais de 10 quilómetros à hora. 14 foram os «chauffeurs» inscritos: Benedito Ferreirinha (Bólide), H. S. Abbot (Locomobile), S. Camargo (Locomobile), Eugénio de Aguiar (moto Werner), A. Martins (Clement), Giuseppe Bordino (Fiat), António Paula de Oliveira (moto Buchet), Francisco Martinho (Richard), Baptista (moto Heresta), Afonso de Barros (Darracq), Trigueiros de Martel (moto Werner), Dr. Tavares de Melo (Darracq), José Bento Pessoa, esse mesmo o recordista mundial de ciclismo (moto Werner), e o francês Edmond (Darracq).

Sem o conduzir, um dos carros era de Egas Moniz, futuro Prémio Nobel da Medicina – e já então militante republicano. Inicialmente, foi a prova marcada para o domingo 26 de Outubro – mas passou para segunda, dia 27. O Século explicou porquê: «Seria difícil policiar as estradas e as vilas do percurso por domingo ser dia em que há mercado em muitas das povoações que os automóveis têm de atravessar - e com isso se poder causar algum tumulto, confusões». A primeira ideia era que a meta fosse em Cascais – largou-se porque alguém avisou: «em virtude das diversas passagens de nível existentes entre Lisboa e aquela vila pode haver complicações». O abastecimento de combustível foi assegurado pela Colonial Oil Company, antecessora da actual Móbil Oil Portuguesa.

«Apenas alguns cães mortos»...
Vários foram os pilotos profissionais chamados a comando de viaturas – a troco de muito dinheiro. Um deles, o francês Edmond, considerado um dos melhores do Mundo. Como adormeceu no comboio não chegou a tempo à Figueira. Tavares de Mello, que o contratara, assumiu o comando do seu Darracq de 9 cavalos, até Coimbra o levou – e lá entregou enfim Edmond à sua condução. Foi o primeiro a chegar, destacadíssimo, à meta, colocada junto à Igreja do Campo Grande – ao cabo de 12 horas, 24 minutos e 5 segundos. Quando o relógio marcava 13 horas, 29 minutos e 25 segundos apareceu o Giuseppe Bordino aos comandos do Fiat do Infante D. Afonso. Como Edmond adormeceu no comboio não chegou a tempo à Figueira. Tavares de Mello, que o contratara, assumiu o comando do seu Darracq de 9 cavalos, até Coimbra o levou – e lá lho entregou. Por não ter feito o percurso total foi desclassificado, passou o triunfo para Bordino. Meias hora depois dele surgiu o Darracq de Afonso de Barros – e logo de seguida a moto Buchet de António Paula de Oliveira. Os restantes concorrentes ou não completaram a prova - ou alcançaram o Campo Grande já depois de expirado o prazo de 10 horas, previsto como máximo. E no Relatório Oficial da prova, Carlos Calixto escreveu: «Quanto a acidentes, apenas alguns cães mortos e um ou dois abalroamentos sem importância».

Alguns meses mais tarde um outro grupo, liderado pelo conselheiro Carlos Roma du Bocage fez menção de fundar também clube de automobilistas. Juntaram-se aso organizadores da corrida da Figueira da Foz-Lisboa – e a Em 15 de Abril de 1903, na Sociedade de Geografia, sob a presidência do conselheiro Carlos Roma du Bocage, secretariado por Carlos Calixto e João Craveiro Lopes de Oliveira, foi aprovado o projecto dos Estatutos do Real Automóvel Club de Portugal. A presidir à Assembleia Geral ficou o Infante D. Afonso e à Direcção o conselheiro Carlos Roma du Bocage.


Quilómetro a mais de... 82 km/h!
Rampas, gincanas, raides e excursões ganharam fôlego, entretanto. Em 1905, Francisco Martinho, numa Voiturette Populaire da De Dion Bouton, estabeleceu o recorde Paris-Lisboa: 2117 quilómetros em 62 horas e 15 minutos. E D. António Praia e Augusto Bruges ligaram Lisboa a Constantinopla num De Dion Bouton, percorreram cerca de 38 mil quilómetros, entre Setembro e Abril de 1906. Nesse ano, a 18 de Março, fez-se no Cartazo a primeira corrida nacional de velocidade: um quilómetro lançado - ligando a Valada do Ribatejo à Ponte do Reguengo. Com a família real a assistir – 43 segundos para José de Aguiar num Fiat, à média de à media de 82,568 km/h.

Esse era o tempo em que por cá, quem andasse em viagem ainda tinha de levar reservas de combustível, para reabastecimentos havia apenas carro-tanque que cruzava o país, puxado por quatro mulas. Um Peugeot de 8 cavalos custava 2400 mil réis, mais ou menos 100 anos de salários de trabalhador não qualificado. Na sua garagem, D. Carlos tinha sete...

Fonte: http://www.abola.pt
Vetture Italiane: più di automobili, uno stile di vita!

Stilo Abarth
www.fiatistas.com/forum/index.php?topic=12637.0

Punto GT3
www.fiatistas.com/forum/index.php?topic=15451.0

Bigluisao

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Re: FIAT do Infante D. Afonso
« Responder #1 em: 26 de Março, 2010, 15:10:23 »
Excelente trabalho Amigo Paulo!

Estás muito bem documentado sobre a história dos automóveis!

Gostei bastante.  :bompost:

Cumps,
Luís

bude

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    Renato Sequeira - Lisboa
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Re: FIAT do Infante D. Afonso
« Responder #2 em: 26 de Março, 2010, 20:29:36 »
Porque o Fiat do Infante D. Afonso chegou em segundo mas ficou em primeiro...

Mais um  :bompost: da "Enciclopédia GT ABARTH". :t_up: